Meu trabalho e eu

Com regras ou sem regras?

Posted on: 02/06/2009

Meu “finado” antigo chefe que acabou de picar a mula pra outro lugar mandou de despedida um vídeo que achei maravilhoso, pra variar é do  TED. A apresentação é do Barry Schawartz, psicólogo, professor de Teoria Social e de Ação Social na Faculdade Swarthmore, na Pennsylvania. Ele trata de uma questão que é muito relevante: Temos sabedoria suficiente para discernir o momento de improvisar? De deixar as regras de lado e fazer o que a situação  necessita?

São descritas as atividades de algumas pessoas e em nenhum momento são citadas  as interações humanas que acontecem durante a execução  do trabalho. Ele fala coisas muito bonitas, destaquei algumas:

“Nem todos os faxineiros são assim, mas os que são pensam que todas essas formas de interações humanas envolvendo gentileza,cuidado e empatia, são partes essenciais do trabalho. E no entanto na descrição de trabalho deles não há uma só palavra sobre outros seres humanos. Esses faxineiros tem vontade moral de fazer o que é certo pelas outras pessoas. E além disso, eles têm habilidade moral de perceber o que “fazer o que é certo” significa.Uma pessoas sábia é como um músico de Jazz, usando notas de uma pagina musical, mas dançando ao redor delas, inventando combinações apropriadas para as situações em sua volta.Você precisa de tempo para poder conhecer as pessoas as quais está servindo, você precisa ter permissão para improvisar.”

Ele discute ao longo do vídeo  que apesar dos processos bem desenhados, existem relacionamentos e situações que estes processos não podem prever e saber a hora de fugir a regra para alcançar um resultado que seja melhor para o todo, é sinal de habilidade moral, sabedoria.

Esse assunto tem particularmente me despertado muito interesse nos últimos tempos, em função das mudanças pelas quais estou passando. Tento fazer uma análise adequada dos momentos em que devemos ter regras definidas e de quais momentos devemos  ser flexíveis e deixar que as coisas aconteçam de maneira orgânica.

Uma coisa que pensei hoje: será que uma boa gestão deveria ser totalmente sem regras? Porque essas posturas precisam ser tão antagônicas? Eu queria que existe uma combinação ótima entre regras e liberdade que nos permitisse ter flebixibilidade e efetividade na medida certa. Já convivi bastante com uma gestão bem flexível, temos inovação,velocidade, interação entre as pessoas, felicidade por resultados compartilhados e realização pessoal, por outro lado sinto dificuldade de conseguir olhar pra trás e ver o caminho que trilhei, onde devo melhorar, como otimizar meus próximos projetos… acho que estou começando a ter os primeiros contatos com uma gestão mais estruturada, mas não gostaria de perder as coisas boas que vivi anteriormente, será que tem jeito?

Bom, se não tiver, tenho o sonho de um dia ter poder suficiente para balancear essas coisas e encontrar o equilíbrio que faça pessoas com diferentes pontos de vista em relação as regras se complementarem =D

4 Respostas to "Com regras ou sem regras?"

Eu como estudante de engenharia, sou condicionado a tentar encontrar regras para tudo e engessar o processo para ser o mais eficiente possível, porém como descrito em seu post, acredito que é necessário criar processos que permitam a flexibilidade em certos pontos, acho que nesse caso o seu post anterior sobre como e quando fazer as perguntas certas caibam muito bem… Mas isso é difícil para cassete! hahaha quando percebemos já estamos utilizando o velho método de novo… Em quanto as empresas e nós mesmo não percebermos que o questionamento e estudo de novas idéias trazem benefícios para as empresas tudo vai continuar quadrado e chato…

Sei lá…estando no mesmo barco é difícil ter uma visão mais clara ou mesmo ter uma opinião sem contaminações.

Mas eu acho que nós ouvimos pouco o curso do mar…as vezes respostas tão óbvias são tão custosas para a gente aceitar.
Como o modelo não existe, o modelo são todos, e inerentemente organicos…inerentemente com regras…

a gente nao sabe prever as ondas, mas a gente sabe exatamente quando a maré sobe e quando ela desce….

….agora pega o meu comentário e faz uma música MPB…ondinha vai…ondinha vem….

Nani,
A gestão aplicada em todo o século XX foi criada sobre um modelo teórico que fora construído durante a revolução industrial. Aliás, não somente a gestão, mas todo o processo de educação formal, o qual servia ao propósito de formar “recursos” para a “máquina” de “eficiência” que eram as empresas, cujo software era a gestão.

Mas, da mesma forma que o cúmulo do racionalismo pode ser a intuição (e de certa forma a emoção), O cúmulo da eficiência cartesiana, engendrada não seria a empresa orgânica, onde cada elemento desempenha diferentes papeis servindo sempre a um propósito dado por uma missão.

As próprias fronteiras do que são os elementos internos, “recursos” de uma empresa já não são mais definíveis. O quanto a empresa depende de “terceiros”, “parceiros”, “network” e quanto ela depende das “capacidades internas estritas” é uma fronteira que está cada vez mais cinzenta. A mesma fronteira cinzenta paira sobre toda tentativa de delimitar um organismo vivo. Não sobrevivemos sem as bactérias (as quais não nascemos com elas) dentro do nosso sistema digestivo. Não sobrevivemos sem os fungos que geram antibióticos que são processados por máquinas, não sobrevivemos sem estarmos biologicamente conectados… cada vez somos mais formigas onde o ser é o todo.

Parece filosofia, mas como toda boa filosofia, tem que estar embasada na mais realística realidade.

Como ficam os contratos de trabalho ? Benefícios ? Hierarquias ? Grades ? Headcounts ? CLTs ? Em um sistema orgânico ?

A eficiência da organização está despejando frutos na sociedade, eficiência em grande parte criada por tecnologias e avanços científicos , mas a gestão está acompanhando isto ?

Será que o paradigma: Mais com menos continua ? Cada um no seu quadrado ?

Como o Dr. Schawartz cita explicitamente, o job description não faz mais sentido… e a tecnologia complementa: cada vez a tarefa será menos humana que desempenhará outras habilidades mais naturais. Mas o job description é só um pedaço da enorme metologia de gestão industrial, sistemas de avaliação, promoção, demissão, gestão de recursos, construção de produtos estão todos na mesma velha métrica.

Como as empresas sobreviverão a transformação que a sociedade está passando e passará ? Aliás, empresas ou pessoas ?

[]s
O finado

E faltou um último comentário…

A crise que estamos passando tem muito a ver com isto.

As métricas e processos parecem que chegaram no ponto de ruptura.

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